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Sessão rememora a tragédia do Césio 137 e reforça a luta das vítimas

por marcos — publicado 14/09/2017 10h28, última modificação 14/09/2017 10h28

     A Sessão Especial “Não Podemos Esquecer: Césio 137, 30 anos depois”, realizada na noite de ontem no Plenário da Câmara Municipal por iniciativa do vereador Andrey Azeredo (PMDB), presidente da Casa, teve o objetivo de relembrar o acidente radioativo ocorrido em 13 de setembro de 1987 na Capital e de homenagear pessoas, dentre vítimas e profissionais, que vivenciaram aqueles dias e lutaram para ajudar os acidentados. Na solenidade, Andrey Azeredo anunciou que em outubro será realizada uma reunião entre as instituições representadas no evento e o procurador-geral  do Estado, Alexandre Tocantins, para traçar metas de assistência aos acidentados e de pesquisas e estudos acerca do acidente.

      A Sessão foi aberta por Andrey Azeredo e contou com apresentação  da cantora Ludmilla de Souza Porto Berquó, que interpretou o Hino Nacional. Na sequência, foi apresentado um vídeo sobre o acidente com depoimentos de três dos homenageados que não puderam comparecer à solenidade: o médico Alexandre Rodrigues de Oliveira, das Indústrias Nucleares do Brasil (na época, Nuclebrás), o físico nuclear Rex Nazaré Alvez, que era o presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), e a médica oncologista Maria Paula Curado, do Centro Integrado de Pesquisa.

      Os três profissionais parabenizaram Andrey Azeredo pela iniciativa e deram depoimentos. "Eu estava em Goiânia na fase aguda do acidente, essa experiência marcou profundamente a vida de todos nós e não pode ser esquecida. Essa Sessão, 30 anos depois, mantém viva a necessidade de nós olharmos, sempre, na direção daqueles que sofreram os maiores impactos: as vítimas. Faço uma homenagem especial a todos que trabalharam no acidente e ao vereador Andrey Azeredo, e deixo meu pranto de gratidão aos pacientes, que merecem todo o carinho e nunca deverão ser esquecidos”, disse Alexandre Rodrigues.

     "Em 1987 eu estava em Viena, na Conferência Geral das Nações Unidas para a área nuclear, quando recebi a informação do que tinha ocorrido. De imediato larguei a reunião e fui para Goiânia. Aquele foi um dos momentos mais pesados para mim. Dedico minha homenagem à menina Leide das Neves, vítima símbolo do acidente, uma boneca, uma pequena muito carinhosa que não merecia o que aconteceu", lamentou Rex Nazaré. A médica Maria Paula agradeceu a homenagem e ressaltou, ao elogiar a iniciativa da Sessão: "considero esse evento muito importante dentro da vida goiana."

     Pedido de desculpas

     Em sua fala de abertura, o vereador Andrey lembrou a cronologia do acidente, destacou a importância das novas gerações conhecerem os fatos e afirmou que "não estamos aqui para nomear heróis ou culpados, mas para refletir a respeito e fazer justiça a alguns que já faleceram e apoiar os que ainda estão sofrendo e lutando". Ele frisou a batalha do então governador Henrique Santillo, um dos homenageados da noite, para reduzir os danos e lutar contra a estigmatização de Goiânia, dos goianienses e até dos produtos goianos no País. Carlos Henrique Santillo, filho do ex-governador e diretor da Escola do Legislativo do Estado de Goiás, representou-o na solenidade. Num dos momentos mais emocionantes da Sessão, dirigindo-se a Luiza Odet Mota dos Santos, vítima, uma das homenageadas e tia de Leide das  Neves, Andrey Azeredo pediu desculpas, em nome da Câmara e da cidade, à família da menina e às vítimas por tudo o que sofreram e ainda enfrentam.

      Ao elogiar o papel da imprensa no acidente, o vereador exaltou a presença na Sessão da mãe dele, a jornalista e ex-deputada estadual Rachel Azeredo, que na época da tragédia foi a primeira comunicadora a relatar publicamente os fatos, esteve no local fazendo reportagens e desde então sempre apoiou a causa das vítimas. "A imprensa goiana trabalhou muito, contribuiu para informar as pessoas e a diminuir o preconceito contra os acidentados.   Por isso merecem também receber a nossa gratidão", afirmou ele.

     Um dos homenageados da noite foi o falecido ex-procurador-geral do Estado Gercy Bezerra Lino Tocantins, que ocupou o cargo entre 1987 e 1991 e se destacou por defender as vítimas da tragédia. Ele foi representado na Sessão por seu filho e atual procurador-geral do Estado, Alexandre Tocantins. Este relatou que "me lembro que foram dias de muita luta e de trabalho árduo para o meu pai. Esse reconhecimento me deixa muito honrado”. Outro homenageado que foi lembrado diversas vezes por sua atuação decisiva naqueles dias foi o físico Luís Hiroshi Sakamoto, diretor de Distribuição da Eletrobrás.

      O primeiro físico a ter contato com o material radioativo, Walter Mendes Ferreira, atual chefe da Divisão de Rejeitos Radioativos da CNEN disse que "o acidente jamais poderá ser esquecido, aprendemos  muito com o que houve mas o maior aprendizado veio da convivência com os acidentados". Odesson Ferreira, vice-presidente da Associação das Vítimas do Césio-137 (AVCésio) e tio de Leide das Neves lembrou dos profissionais civis e militares que foram ao local sem saber que se tratava de um acidente radioativo, narrou o preconceito que ele e outros sofreram e às vezes ainda sofrem e cobrou o apoio das autoridades presentes para a assistência às vítimas. "Até hoje há processos na Justiça de pessoas que buscam seus direitos. O acidente não pode ser esquecido, mas, principalmente, as pessoas não podem ser esquecidas", sentenciou.

      Pânico do desconhecido

      Antonio Faleiros Filho, ex-secretário de Saúde do Estado de Goiás e atual presidente da Indústria Química do Estado de Goiás, relembrou detalhes dos fatos, narrou as dúvidas iniciais sobre se era mesmo um acidente radioativo, destacou o trabalho da Polícia Militar, dos técnicos da secretaria estadual de Saúde que detectaram os primeiros focos de contaminação, do pessoal do Consórcio Rodoviário Intermunicipal (CRISA) que atuou na descontaminação e no transporte dos rejeitos radioativos, o sofrimento daqueles que tiveram que abandonar suas casas apenas com a roupa do corpo, a falta de informação, a remoção das pessoas para o Estádio Olímpico e para o Hospital de Doenças Tropicais (HDT), o pânico do desconhecido, as lutas políticas, o destino dos rejeitos, as dificuldades econômicas, a rejeição aos produtos goianos e o drama vivido no enterro da menina Leide, quando pessoas tentaram impedir, a pedradas, o sepultamento por medo da contaminação.

      Como parte das atividades alusivas ao acidente, também está sendo realizada no hall da Câmara, por iniciativa do presidente, uma mostra fotográfica, em parceria com a Casa, com a Organização Jaime Câmara e o jornal O Popular, de 11 a 29 de setembro. A exposição tem 30 fotografias feitas na época do acidente por profissionais do Jornal O Popular e já expostas há uma década para rememorar os 20 anos da tragédia.

Com informações da assessoria de imprensa de Andrey Azeredo

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