História
A Câmara Municipal é onde se consolida o poder legislativo de Goiânia.
Atualmente ela é composta por 35 vereadores, eleitos pelo voto. A Câmara é administrada por uma Mesa Diretora eleita no primeiro dia do início de uma legislatura, que dura dois anos.
O vereador é a síntese do povo
O vereador tem como função fiscalizar e assessorar o Poder Executivo em todos os momentos. Em contrapartida, ele é fiscalizado e cobrado por toda a população - e não só pelos eleitores que lhe deram o mandato. Mas a missão do vereador vai mais longe.
A outra função é legislar. Ele é o responsável por transformar em lei a vontade popular. A importância de sua atuação como legislador é o ponto alto da verdadeira democracia. O presente trabalho é mais um exemplo da importância da atuação do vereador. Enquanto cumpre o mandamento de ser a voz do povo, ele faz história. Basta ver como o Legislativo foi decisivo para a implantação da capital, na década de 30. E como retornou à luta após ser extinto em 1937 pela ação impositiva e ditatorial do então presidente da República Getúlio Vargas.
De lá para cá, foram oficialmente 15 legislaturas cumpridas, mais a atual. Uma vitória da democracia. E, para coroar esta vitória, nada mais oportuno que finalmente inaugurar uma sede nova, ampla, moderna, de fácil acesso para a população e exemplo de obra social, que tão bem representa.
Nas páginas deste site está uma parte importantíssima da história de Goiás. Sabemos que ela não esgota o assunto. Ao contrário; abre a perspectiva para que outras pesquisas sejam feitas, novos fatos venham à tona, e mais se busque a verdade dos acontecimentos vividos pelos pioneiros de nosso Estado e nossa cidade. E se assim o for, o objetivo primordial desta empreitada está cumprido.
O Começo
O Decreto 510 instala o Poder Legislativo em Goiânia
Logo após o lançamento da pedra fundamental da nova capital do Estado, Goiânia, o então governador Pedro Ludovico Teixeira assinou, no dia 20 de novembro de 1935, o Decreto de nº 510, que instituiu o Poder Legislativo Goianiense e marcou as eleições municipais para o dia 24 de junho de 1936.
Sete conselheiros municipais foram nomeados: Germano Roriz, Pedro Arantes, Godofredo Leopoldino de Azevedo, Aarão Augusto de Souza, João Augusto Roriz, Antônio Euzébio Felipe e Milton Klopstock e Silva. Eles atuaram até a posse dos vereadores eleitos em 15 de outubro de 1936.
A Ditadura
O poder nasce, a ditadura derruba
Apesar da cidade ter apenas dois anos, o governador Pedro Ludovico Teixeira justificou a criação da primeira Câmara Municipal em virtude da grande "multiplicidade de trabalhos" e do expressivo aumento no número de "forasteiros".
Em 15 de outubro de 1936, sete vereadores foram eleitos: Licardino de Oliveira Ney, José Rodrigues de Moraes Filho, João Augusto Roriz, Milton Klopstock e Silva, Hermenegildo de Oliveira, Germano Roriz e Octacílio França.
Esses vereadores atuaram até o dia 10 de novembro de 1937, quando o "golpe de Estado", imposto pelo então presidente Getúlio Vargas, fechou as portas dos legislativos de todo o País.
A Câmara Municipal só foi oficial e novamente instalada dez anos depois. A solenidade aconteceu no salão de reuniões da Assembléia Legislativa, no dia 6 de dezembro de 1947, com as presenças do juiz eleitoral da 1ª Zona, Elísio Taveira, e respectivos vereadores, que na mesma data tomaram posse.
Câmara é reinstalada
A primeira sede após a volta da Câmara foi à avenida Goiás, antigo prédio do jornal O Popular. A sessão inicial aconteceu no dia 9 de dezembro de 1947.
Em seus pronunciamentos, os vereadores ressaltaram a importância daquele poder. Para o vereador Alberto Xavier de Almeida (UDN), a instalação da Câmara representou a "última etapa de reconstitucionalização do País".
Em 1947, o Partido Comunista havia sido cassado e caiu na ilegalidade. Com isso, os militantes da legenda foram obrigados a se filiar em outras agremiações. Na Câmara Municipal de Goiânia, dois vereadores comunistas se viram forçados a se filiar à UDN. Um foi Alberto Xavier de Almeida; o outro, José Nonato. Almeida protestou na ocasião contra o fechamento de jornais e a cassação de mandatos de parlamentares.
Em todo caso, o País se preparava para viver uma nova fase e um clima de redemocratização começava a tomar conta do sentimento brasileiro. Esse clima foi muito bem refletido na recém instalada Câmara Municipal de Goiânia.
Nas atas das primeiras sessões, constam vários discursos de vereadores que, mesmo não sendo ligados ao comunismo, usavam a tribuna constantemente para protestar contra o fechamento de jornais e a cassação de mandatos de parlamentares e para reiterar a importância dos poderes legislativos.
Neste clima de euforia, as sessões da 1ª Legislatura foram marcadas por calorosas e acirradas discussões. Os embates na tribuna eram constantes, principalmente entre os vereadores de partidos de direita e os de esquerda.
Presidente da Câmara Municipal na 1ª Legislatura, Odon de Morais com os vereadores José Fernandes Peixoto, Milton de Souza Mendonça e José Rodrigues Naves Júnior.
O ex-vereador Odon de Morais lembra que o relacionamento da Câmara com o Executivo era marcado por muitas desavenças. A história deixa transparecer que a Câmara se sentia na obrigação de ser totalmente independente do outro poder. "Os adversários políticos eram inimigos de fato, mas em torno das questões que beneficiavam a comunidade a disputa era deixada de lado", frisa Odon.
Sonho e Realidade
A 1ª Legislatura aprovou lei e ditou os rumos do desenvolvimento da capital. Comparados aos dias de hoje, os primeiros projetos parecem significar muito pouco, mas naquele período tiveram uma importância fundamental na melhoria da qualidade de vida da população goianiense, pois a cidade estava sendo construída e não contava com infraestrutura para atender os cerca de 40 mil habitantes.
Uma característica marcante dos primeiros mandatos do Legislativo goianiense era a dedicação incansável de seus representantes. Na ânsia de atender às necessidades comunitárias - que eram incontáveis, já que a cidade acabara de ser fundada -, os primeiros vereadores se dedicavam exclusivamente ao exercício parlamentar, mesmo recebendo um salário irrisório na época.
As sessões da Câmara eram ininterruptas. Ocorriam de segunda a sexta-feira e não tinham hora para terminar, podendo muitas vezes atravessar a madrugada. Os horários de início das sessões eram rígidos. O recesso natalino de 1947 foi curtíssimo, tendo sido realizadas duas sessões entre as festas de Natal e Ano Novo.
Para o advogado, escritor e vereador na Câmara por duas legislaturas, Manuel Messias Tavares, por ser pioneira, a 1ª Legislatura, certamente, foi a que teve mais trabalho. Ele ressalta que foram esses vereadores que criaram as primeiras leis e tomaram providências relacionadas ao progresso de Goiânia. "A ela coube as tarefas primordiais e que ditaram o desenvolvimento do Estado", destaca Manuel Messias Tavares recorda que na 3ª Legislatura, em 1955, quando ele exerceu seu mandato de vereador, as dificuldades ainda eram enormes. O município não dispunha de recursos para realizar obras de maior porte, pois somente veio adquirir sua autonomia político-financeira no governo Hélio Seixo de Brito, em 1962. O Governo do Estado também recebia pouca ajuda do Governo Federal e não conseguia atender sozinho tantas necessidades.
Na 1ª Legislatura, foram aprovados importantes projetos, como para asfaltamento de ruas, instalação de telefones públicos, redes de água e energia; e para a construção da agência de Correios e Telégrafos de Campinas, do Mercado Municipal de Campinas e da Estação Rodoviária de Goiânia, além de outras necessidades básicas.
Segundo Odon Rodrigues de Morais, foi nessa época que a Câmara aprovou a compra do terreno da Praça Cívica para a instalação da sede da Prefeitura de Goiânia. O primeiro necrotério de Goiânia foi solicitado por meio de requerimento da vereadora Ana Pereira Braga (UDN) em 21 de janeiro de 1948. Nesse mesmo ano, o prefeito Eurico Viana apresentou ofício para que as farmácias de Goiânia funcionassem em plantões noturnos.
Democracia e a confecção das primeiras leis
Transição para a democracia
Foi a 2ª Legislatura que aprovou a Semana Inglesa, com o comércio fechando às 13 horas no sábado. Nesta época, os policiais tentaram impedir uma manifestação de trabalhadores rurais no Cine Campinas, próximo à Praça Joaquim Lúcio.
Segundo o escritor e jornalista Luiz Contart, que foi vereador neste período, os incidentes não foram maiores porque houve intervenção de autoridades, inclusive da Câmara Municipal.
Dos anos 30 aos dias de hoje
A Câmara Municipal teve presença marcante na vida de Goiânia. A essência da atuação parlamentar em nível municipal vem acompanhando a trajetória da Capital do Estado desde a década de 30, quando foram traçadas as diretrizes de seu projeto urbanístico, aos dias de hoje.
Os projetos de lei, os requerimentos e as proposituras em favor da comunidade tinham praticamente o mesmo teor dos atuais. O que mudou foi a dimensão e o conceito de prioridade. Não havia projetos de grande vulto, já que a dificuldade na obtenção de recursos não permitia que a Câmara Municipal votasse projetos que exigiam grandes investimentos ou propostas no orçamento que significassem despesas.
Mesmo assim, os vereadores conseguiram colocar em votação projetos importantes para a comunidade, como limpeza de ruas, pedidos de asfaltamento e outros benefícios voltados à infraestrutura da cidade. Cabia à prefeitura atender ou não aos pedidos dos vereadores. Entretanto, na maioria das vezes, como eram projetos essencialmente voltados às necessidades da população, eles eram aprovados quase sempre em primeira votação.
Assim, desde os primeiros tempos de Câmara Municipal, os parlamentares não são somente responsáveis pela criação de leis, exercem também outras funções, entre elas, de certa forma, a de assistente social.
Haroldo Gurgel
Assassinato de jornalista movimenta a Câmara
Apesar de estar vivendo um período de redemocratização, o País ainda enfrentava alguns resquícios da ditadura Vargas. O ex-vereador e escritor Luiz Contart observa que em Goiás não era diferente. As autoridades goianas eram protegidas por jagunços, que sempre acabavam cometendo excessos. O assassinato do jornalista Haroldo Gurgel, do jornal O Momento, foi um exemplo que refletiu essa prática. Segundo Contart, Haroldo Gurgel sempre foi polêmico e destemido. No jornal, ele não poupava críticas a quem quer que fosse e isso incomodava muitas das autoridades políticas da época.
Quando ocorreu o assassinato, em 1953, Luiz Contart ocupava a presidência da Câmara Municipal e estava na Europa, representando a Casa no Festival Internacional da Juventude. Ele conta que quando desembarcou no Rio de Janeiro, o motorista do táxi em que ele entrou foi logo relatando o fato, que alcançou grande repercussão em todo o País. Gurgel foi crivado de balas num terreno baldio onde hoje está instalada a agência central do Banco do Estado de Goiás, na Praça do Bandeirante.
Segundo informações da época, alguns jagunços tomaram as dores do diretor do Departamento de Força e Luz Estadual, Pedro Arantes, que se sentiu ofendido com uma matéria publicada em O Momento e que levava o seguinte título: "O homem voltou e deu a luz". Gurgel, em sua matéria, abordou ironicamente um episódio ocorrido com Pedro Arantes. O diretor tinha ido ao dentista para fazer um tratamento e, na ocasião, faltou energia elétrica. Arantes então telefonou para vários locais e a volta da energia foi providenciada rapidamente. O jornalista ficou sabendo do acontecimento e resolveu contar a história.
O assassinato de Haroldo Gurgel causou comoção e revolta popular. Estudantes, militantes de partidos de esquerda e populares realizaram um grande protesto.
As primeiras legislaturas
Momentos difíceis
Para os antigos vereadores e funcionários da Câmara, as três primeiras legislaturas marcaram a história do Legislativo por seu caráter pioneiro e totalmente voltado aos interesses coletivos.
Mas todas as legislaturas tiveram sua devida importância em seu determinado tempo e espaço. A 4ª Legislatura (1959/1963) é que contou com os nomes mais expressivos da vida pública atual de Goiás. Entre eles estão Iris Rezende Machado, Nion Albernaz, José Luiz Bittencourt e Heli Mesquita.
Na 5ª Legislatura (1963/1966), com o golpe de 64, a Câmara começou a enfrentar suas primeiras dificuldades com o regime ditatorial. Na 6ª Legislatura, apenas dois partidos dominavam a Câmara: a Arena e MDB. Iris Rezende foi eleito prefeito pelo MDB, que também fez 12 vereadores, contra apenas cinco da Arena. Mas foi no início da década de 70, durante as 6ª e 7ª legislaturas, que a Câmara enfrentou seu período mais conturbado.
A Arena é que tinha a maioria, com nove vereadores contra oito do MDB. De acordo com Manuel Messias Tavares, vereador naquele período pelo MDB, a Câmara viveu momentos de temor. Por causa da denúncia de um vereador – que ele prefere preservar o nome –, a Comissão Geral de Investigação (CGI) fez uma total varredura em todas as legislaturas e houve muitas apreensões. A intenção do referido vereador era que o governo investigasse apenas a presidência de então, mas o fato acabou chamando a atenção dos militares para a Câmara Municipal. O clima ficou tenso e a Casa vivia constantemente sob a sombra do medo de ter suas portas fechadas. Mas os vereadores têm orgulho de contar que o Legislativo não se curvou e exerceu importante papel como um órgão de defesa da democracia.
A presidência da Câmara, no entanto, esteve ameaçada em outra oportunidade. O presidente da Casa era Zeuxis Gomes de Morais. Houve uma reforma administrativa na prefeitura e ninguém ousava fazer o mesmo na Câmara. Coube a Zeuxis a tarefa, o que quase o levou à cassação. Isso porque ele aproveitou algumas pessoas, como João Natal, do MDB. Foi denunciado ao Regime Militar, embora houvesse verdadeiramente a necessidade da reforma. Zeuxis contava muito com o apoio de todos os vereadores. Disse que se eles lhe dessem a cobertura necessária - o que realmente aconteceu -, faria uma reforma nos moldes da prefeitura. João Natal estava à disposição do Legislativo como delegado de polícia concursado, e foi aproveitado como procurador da Câmara.
E justamente já prevendo complicações foi que Zeuxis resolveu então aproveitar todos os funcionários do Estado à disposição da Câmara e criar um quadro especial para vereador funcionário. Foi denunciado e confessou tudo. Questionaram principalmente o caso de João Natal. Ao final, o entrevistador lhe disse: "O senhor é um homem de bem, mas se comprometeu muito. Vou lhe mostrar quem foi que pediu para fazer essa investigação."
Qual não foi a surpresa de Zeuxis ao ver numa cópia de telex a assinatura do presidente da República, Ernesto Geisel. Era caso para cassação. A recomendação era ir a Brasília e procurar os amigos.
Zeuxis chamou João Natal e contou-lhe a história. Natal e outras duas procuradoras da Câmara lhe fizeram uma belíssima defesa. Ele foi a Brasília, procurou Petrônio Portela e contou tudo. Portela leu a defesa e perguntou-lhe se teria condições de se defender oralmente utilizando os mesmos argumentos. Zeuxis disse que sim, no que ouviu a explicação do grande articulador nacional: "É, porque lá o que vai valer são suas reações. Topa?"
Portela telefonou para Armando Falcão, pediu a entrevista e Zeuxis foi para o SNI. Deu de cara com João Batista Figueiredo, que foi duro no questionário. A uma certa altura o vereador teve o direito de falar e mandou brasa.
Entre outras coisas, disse que estava sendo perseguido pelo coronel Danilo Sá da Cunha Melo, secretário de Segurança (que queria pegar mesmo era o João Natal). Também perguntou por que é que o SNI tinha tanta anotação que o condenava e não tinha anotado tudo o que já fizera pela revolução.
Quando terminou, a resposta de Figueiredo foi pegar o telefone e ligar para Danilo. Repetiu tudo o que Zeuxis lhe dissera e repreendeu fortemente o secretário. Por um triz, o vereador estava salvo.
Por tudo isso, pode-se dizer que em todos os seus mandatos, a Câmara Municipal de Goiânia procurou sempre atender aos anseios da comunidade, cumprindo suas atribuições de fiscalizar, assessorar o poder Executivo e elaborar leis em defesa dos cidadãos.
Nestes 50 anos de atuação, a Câmara conseguiu se transformar num canal de comunicação intermediando o diálogo entre a população e os poderes constituídos. Uma prova disso são os resultados surgidos diretamente do eleitorado.
Da Casa saíram prefeitos, deputados estaduais e federais, governadores, secretários, senadores, ministro e ocupantes de outros importantes cargos políticos. Após cinco décadas de serviços prestados aos goianos, a Câmara se firma como um órgão que representa a voz do povo.
Homens de Ouro
Os sete homens de ouro
Houve um momento na Câmara em que um grupo de sete vereadores exerceram grande influência nos destinos da Casa e da capital.
Eram Os Sete Homens de Ouro: Bráulio Afonso de Morais, Darcizo de Souza (depois, José Luciano), Germino Alves Pereira, José Eduardo Nascimento, Pedro Xavier Teixeira, Ubaldino Rodrigues Rocha e Zeuxis Gomes de Morais. Tanto fizeram que quase elegeram o seu líder, Zeuxis de Morais - exímio articulador, conhecido como o Portelinha de Goiás (referência a Petrônio Portela), prefeito de Goiânia.
A força dos Sete Homens de Ouro se dava porque, com mais dois votos, alcançavam a maioria na Câmara, que tinha apenas 17 vereadores. Pois esse grupo, quando da escolha do novo governador do Estado, no final do governo Irapuan Costa Júnior, provocou uma série de encontros com todos os postulantes ao cargo. Nesses encontros, os vereadores faziam várias exigências, como participação maior de Goiânia no governo em postos de interesse da cidade, que na época eram geralmente dirigidos por pessoas de outras localidades. Uma vitória expressiva da época foi a realização de um grande congresso estadual de vereadores, idealizado por Zeuxis. Participaram do evento o Tribunal de Contas do Estado e a Secretaria Estadual do Interior e Justiça. E o resultado foi a autonomia dos Legislativos municipais e a elaboração de 80 orçamentos de municípios goianos.
Os Sete Homens de Ouro nunca perderam uma causa dentro do Legislativo. Tiveram atuação decisiva na eleição de três presidentes da Casa - Paulo Silva, Daniel Antônio e Bráulio de Morais - e na cassação de outro, José Elias. Foram eles, por exemplo, que conseguiram aprovar todas as leis de uso do solo da Capital. Por conta dessa força, Zeuxis concorreu diretamente com Hélio Mauro à indicação de prefeito de Goiânia, que seria feita pelo governador Irapuan Costa Júnior. Não fosse uma intervenção de Jarbas Passarinho no último momento, Zeuxis teria se tornado prefeito. Em lugar disso, virou secretário de Obras de Hélio, a quem Irapuan tinha pedido que se aproximasse dos Sete Homens de Ouro.
Mais tarde, na 12ª Legislatura, um outro grupo também atuou com destaque na Câmara. Era formado por onze vereadores, os mesmos que quase foram impedidos de assumir suas vagas na Casa porque a Justiça entendia que Goiânia tinha menos de um milhão de habitantes. Por força do Art. 4º, Res. Nº 26, de 10/12/91, do Regimento Interno, eles assumiram e passaram a atuar em bloco, mantendo a unidade que os levaram a buscar juntos o direito de cumprir o mandato aprovado pelas urnas, formando um Legislativo com 33 vereadores.
Curiosidades
Curiosidades
Nem só de dificuldades e sisudez viveram os vereadores que passaram pelo Legislativo goianiense. Há relatos engraçados e curiosos que ilustram bem como era o dia-a-dia da Câmara.
A seguir, uma seleção de alguns dos "causos" que nunca foram esquecidos e que merecem um registro especial na História de Goiânia.
Madrugar é preciso
Na 1ª Legislatura, os candidatos Maria José Cândido de Oliveira e Agenor Rodrigues Chaves, do PSD, tiveram exatamente o mesmo número de votos. O caso acabou indo parar na Justiça, para que se decidisse quem tinha direito à vaga. O impasse durou cerca de seis meses. Enquanto isso, o vereador que chegasse primeiro era quem ocupava o assento no Plenário. Foi uma situação engraçada, porque os dois ficavam disputando quem se sentava na cadeira diariamente. O critério avaliado foi a idade dos candidatos. O mais curioso é que ambos eram nascidos no mesmo ano. A disputa também foi acirrada para provar quem era o mais velho. O ex-vereador Odon Rodrigues de Morais lembra que o fato foi mais inusitado ainda porque era a primeira vez que se via uma mulher brigando para ser mais velha. Ele conta que até escreveu um artigo sobre assunto e enviou para a revista O Cruzeiro. O texto foi publicado e teve grande repercussão.
Pedro Teixeira
Vereador muito dedicado, com fama de conciliador e bom articulador, Pedro Xavier Teixeira (Arena) ocupou também a presidência da Casa em 1971/1972, considerado um período muito difícil para o Legislativo. Apesar disso, conseguiu exercer seus dois anos na presidência com desenvoltura e firmeza, pois tinha o respaldo de seus pares. Tornou-se também uma figura folclórica por ter um temperamento forte e ser, às vezes, brigão. Mas foram as expressões que ele utilizava em sua fala que o tornaram mais famoso. "Vossa excelência é um leproso moral", foi uma de suas pérolas dirigidas a outro vereador. O apelido de Pedro Besteira teria surgido em uma partida de futebol. Pedro era goleiro do Goiás Esporte Clube. Nessa partida, ele resolveu abandonar o gol e saiu driblando os adversários na tentativa de marcar um gol em favor de sua equipe. Mas um dos jogadores do outro time tomou-lhe a bola, aproveitou a ausência dele no gol e marcou.
A partir deste episódio, os amigos passaram a chamá-lo de Pedro Besteira.
Perfis
Boaventura Moreira de Andrade
Eleito por cinco legislaturas consecutivas e sempre muito bem votado, Boaventura Moreira de Andrade é considerado a figura mais folclórica da história do Legislativo goianiense. Defensor das causas populares, tornou-se o fiel representante do povo carente. Seu jeito simples e sua profissão de pedreiro - e suas expressões engraçadas -, não o impediram de se tornar um dos maiores representantes políticos do Estado. Ao contrário. Com pouca instrução, era um autodidata da política. Combativo, bom articulador, sempre defendia suas idéias utilizando argumentos que faziam calar até mesmo o mais brilhante orador.
Para ex-vereadores e ex-funcionários da Câmara, Boaventura Moreira de Andrade sempre foi um legislador de uma integridade inquestionável e que defendia a comunidade com unhas e dentes. Seu salário era mensalmente distribuído entre funerárias, farmácias, cartórios, médicos e dentistas que prestavam serviço à população carente.
Mas o que tornou mesmo Boaventura uma figura folclórica foi o seu modo de se expressar, por utilizar em seus discursos e considerações, expressões engraçadas que acabavam se transformando em piadas. Como bom pedreiro, Boaventura não hesitava em auxiliar os trabalhadores braçais da prefeitura na conclusão de obras; junto com eles, cavava valetas, abria estradas e construía casas. E tem mais: ele era um excelente mergulhador e não foram raras as vezes em que foi chamado de madrugada para socorrer ou resgatar vítimas de afogamento no rio Meia Ponte.
Os erros de português cometidos por Boaventura durante os discursos eram vistos com naturalidade e até chegavam a lhe conferir mais carisma. Mas em uma ocasião as dificuldades com o idioma foram registradas por um jornalista baiano, que criticou os goianos por terem representantes semi-analfabetos. Na época, o presidente da Câmara era Odon Rodrigues de Morais, pioneiro na Casa e vereador por quatro legislaturas. Ele conta que fez questão de responder a afronta do jornalista baiano escrevendo um artigo para o jornal, ressaltando que Boaventura era um dos melhores representantes da Câmara e lembrando que, curiosamente, também era um baiano. "Se vocês baianos não souberam reconhecer a figura brilhante que há por trás desse homem simples, nós goianos não perdemos tempo", argumentou em seu artigo.
O advogado, escritor, e vereador na Câmara pelo PSB na 3ª Legislatura, Manuel Messias Tavares, lembra que Boaventura sempre teve muito prestígio no bairro onde morou, a Vila Nova, tanto que a principal praça do local leva o seu nome. Manuel Messias conta que inúmeras famílias carentes que não podiam sepultar os seus mortos receberam a ajuda de Boaventura, tanto que uma sala de velórios, localizada nas proximidades do Cemitério Santana, em Campinas, também recebeu o seu nome.
A morte de Boaventura, ocorrida em 1965, durante o exercício de seu quinto mandato, encheu de tristeza o Legislativo e a população goianiense. Seu meio de locomoção era uma bicicleta, que o acompanhou em todos os cinco mandatos. Mas foi com ela que ele encontrou a morte. Ao se dirigir a uma farmácia da Vila Nova para aviar receitas de remédios de seus eleitores, o vereador foi atropelado por um veículo que descia a atual 5ª Avenida em alta velocidade. O vereador foi socorrido e chegou com vida ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos. A notícia foi rapidamente transmitida às autoridades políticas goianienses, que o aguardavam numa solenidade de inauguração de um posto de gasolina em Campinas. Por ter sido um dos maiores defensores dos interesses coletivos, não havia como não entrar para a história da Casa: Boaventura, além de um pedreiro que se tornou um homem público, foi um assistente social; hoje é um herói, um mito.
Odon Rodrigues de Morais
Aos 30 anos, Odon Rodrigues de Morais tinha uma vida tranquila como funcionário do Cartório do 2º Ofício de Goiânia. Mesmo assim, não recusou o desafio de enfrentar as urnas e representar a população goiana no Legislativo. Foi um dos mais votados na primeira eleição que disputou. Tomou posse no dia 6 de dezembro de 1947, quando era colocado um fim ao período negro do golpe de Estado liderado por Getúlio Vargas. Integrante da UDN (com passagem rápida pelo PR), Odon era oposição. Não havia diálogo entre os partidos e por isso as lembranças muitas vezes são de tempos de dureza.
Por oito anos, o vereador cumpriu a responsabilidade delegada pelas urnas. Mas aí precisou se afastar e recompor sua vida patrimonial, já que o mandato pouco lhe dava em termos de retorno financeiro. Dedicou-se ao comércio, administrando primeiro uma farmácia e, depois, um bar. E só voltou ao Legislativo, oito anos depois, por insistência do amigo Hélio de Brito, candidato a prefeito. Ficou outros oitos anos como vereador. Não saiu mais da política, assumindo cargos em comissão. Em 1983, aposentou-se como diretor geral da Câmara.
Odon dirigiu a Casa em duas oportunidades, sempre eleito por unanimidade. Uma lembrança feliz que ficou para toda a vida foi a eleição do filho, Bráulio de Morais, como vereador da Capital, seguindo os passos que trilhou nos idos de 47.
Ana Pereira Braga
Primeira mulher a ser eleita vereadora, ela é dona de uma vasto currículo e uma invejável trajetória política e profissional
Eleita vereadora pela UDN na 1ª Legislatura (1947) , Ana Pereira Braga se tornou figura de destaque por seu comportamento combativo e, principalmente, por seu empenho e dedicação quase exclusiva à Câmara Municipal. Foi ela quem redigiu as atas das primeiras sessões, onde se percebe um clima político agitado, mas com discussões voltadas aos interesses do povo. Foi autora de importantes projetos para a Capital, como a construção do primeiro necrotério, do albergue municipal, da usina de luz para o distrito de Grimpas (atual Hidrolândia) e da edificação da Estação Rodoviária de Goiânia, além do pedido de verbas para o Teatro Otavinho Arantes (Teatro Inacabado), para os estudantes de artes plásticas e música, as bibliotecas e outros benefícios para a área cultural.
Dona de um vasto currículo e uma invejável trajetória política e profissional, Ana Braga é formada em História, Filosofia, Geografia e Direito. Juntamente com Julieta Fleury e Maria José Oliveira, foi uma das primeiras vereadoras de Goiânia. Posteriormente eleita deputada, ocupou ainda o cargo de secretária estadual de Educação.Talvez, um dos maiores desafios de seu mandato como vereadora foi uma campanha em defesa dos filhos das vítimas da hanseníase, conseguindo atrair a atenção da sociedade e da imprensa, que deu total apoio à causa.
José Naves Jr.
Natural de Araguari, Minas Gerais, em 1934 José Rodrigues Naves Júnior deixou o conservadorismo do Triângulo Mineiro, levando na bagagem dois objetivos : buscar outras paragens e criar raízes. Tinha, então, 19 anos. Seguindo em direção a Goiás, instalou-se no bairro de Campinas. Foi trabalhar como porteiro-servente, a convite do primeiro prefeito de Goiânia, Venerando de Freitas, até fixar residência no distrito de São Félix, onde morou por 30 anos. Foi nesse pedaço de chão que, a partir de 1936, atuou como oficial do Registro Civil. Em 1965, volta à Capital e assume a Coletoria Municipal. Por 16 anos consecutivos, de 1947 a 1963, José Naves ocupou uma cadeira na Câmara Municipal (da 1ª à 4ª Legislatura). Foi presidente da Casa por duas vezes.
Udenista histórico, José Naves fundou, em 1945, um diretório do partido em Goianira, o primeiro do Estado. Sua ficha de filiação, assinada em Anápolis, sustenta o número 1. Assim como seu título de eleitor, o primeiro emitido em Goiás. Por isso, nos 20 anos de existência da UDN, sequer chegou a cogitar em abandonar a legenda. Integrante da Executiva Regional do partido, ele foi também delegado convencional do Diretório Metropolitano de Goiânia. Municipalista de carteirinha, ele acreditava que o desenvolvimento macro de um país somente seria consolidado a partir do progresso de cada célula político-administrativa, representada pelos municípios.
Trajano Guimarães
Mineiro de Paracatú, Trajano de Sá Guimarães nasceu em 14 de fevereiro de 1932. Filho do casal João e Lídia de Sá Guimarães, em 1939 transferiu-se com a família para Anápolis. No Ginásio Arquidiocesano Municipal daquela cidade ele concluiu o 2º grau, ingressando em seguida no Seminário Anchieta de Silvânia. Em 1955, Trajano de Sá formou-se em Teologia pelo Seminário de Mariana, SP. Em 1957, de volta à Goiás, morou por algum tempo em Ceres, no Vale do São Patrício, antes de se estabelecer definitivamente em Goiânia.
Em julho de 1959, casou-se com a biomédica Maria Helena Rebello, com quem teve três filhas: Patrícia Helena, Flávia Cristina (já falecida) e Valéria Regina. Nesta época ele já lecionava nos colégios Professor Pedro Gomes e Lyceu de Goiânia, e na Escola de Oficiais da Polícia Militar de Goiás. Foi também fundador, diretor e professor do Educandário Campinas.
Formado em Filosofia, pela UCG, e em Direito, pela UFG, Trajano de Sá Guimarães foi eleito vereador por duas legislaturas, a 7ª (de 71 a 72) e 8ª (de 73 a 76). Orador eloquente, homem trabalhador, digno e honesto em seus propósitos, tanto como cidadão quanto como político, sua presença no Legislativo municipal muito dignificou sua passagem por este Estado. Faleceu em um acidente automobilístico na estrada de Iporá. Em 20 de maio de 1976, foi homenageado pela Câmara Municipal de Goiânia, que deu seu nome a um dos plenários da casa e a um grupo escolar no Parque Amazonas. Também um projeto de lei aprovado em 76 denomina de "Vereador Trajano de Sá Guimarães" a praça existente na confluência da rua 13 com a rua 22, no Setor Oeste.
José Galvão
José Santana Galvão de Castro foi vereador por duas legislaturas. Um dos mais jovens a assumir. Chegou ao Legislativo com 22 anos, representando os futebolistas (era diretor do departamento de futebol amador da Federação Goiana de Desporto, hoje Federação Goiana de Futebol), os lotéricos (foi um dos fundadores da Associação dos Agentes Lotéricos, posteriormente Sindicato dos Lotéricos de Goiás e do Bairro Popular). Uma de suas metas alcançou logo de imediato, que era integrar o Bairro Popular ao Centro de Goiânia.
Galvão, no entanto, se notabilizou por ter o respeito unânime dos funcionários da Casa e apresentar projetos polêmicos. Um deles, que implantava na cidade um forno crematório, teve de ser promulgado pela própria Câmara, devido à resistência do prefeito da época, Manoel dos Reis. Outro projeto revogava todos os nomes das ruas do Centro de Goiânia, retornando à antiga nomenclatura. Ruas conhecidas tiveram seus números trocados por nomes, a exemplo da 20, 24 e 68, complicando a vida do goianiense. Galvão tentou ainda fazer com que todos os goianos ilustres fossem homenageados nomeando as ruas do setor Pedro Ludovico, fundador da Capital. Como Pedro estava cassado, o projeto não vingou.
Zeuxis Gomes de Morais
O Regime Militar teve Petrônio Portela como seu grande articulador nacional. Em Goiânia, um outro articulador fez história, terminando por ser comparado a Portela, honraria que mostrava o respeito dos amigos e adversários e destacava sua grande capacidade de atuação política. Zeuxis Gomes de Morais, o Portelinha de Goiás, é natural de São João do Piauí (PI) e foi eleito pela primeira vez para um mandato na Câmara de Vereadores de Goiânia em janeiro de 1971. Era um mandato tampão de dois anos. Em 1972 foi reeleito para mais quatro anos, e em 1974, para outros seis, totalizando 12 anos no Legislativo.
Logo no primeiro mandato, Zeuxis assumiu a secretaria da Câmara e a condição de líder do prefeito Manoel dos Reis e Silva. No segundo, continuou líder do prefeito, e no terceiro, assumiu (de 75 a 77) a presidência da Casa. Teve passagem também pelo Executivo, como secretário de Obras e Serviços Públicos (a secretaria mais forte da época) do prefeito Hélio Mauro e secretário de Comunicação (responsável por toda a articulação política da administração) de Índio do Brasil Artiaga. Foi ainda líder do grupo de vereadores que ficou conhecido como Os Sete Homens de Ouro.
Naquele tempo, lembra Zeuxis, os vereadores eram verdadeiros representantes dos bairros, onde tinham compromissos diariamente. O voto era uma escolha pessoal, e não resultado de uma estratégia de marketing, como hoje. Mas nem tudo era flores. Conta o ex-vereador que o povo não gostava da figura do prefeito nomeado, o que fez com que ele, em certo momento, sofresse desgaste na condição de líder do prefeito.
Edmundo Rocha
Durante os turbulentos anos 60 e 70 nem todos foram definitivamente tragados pelo sistema repressivo.
Edmundo Florêncio Rocha foi um destes cânones dos direitos humanos, que disponibilizou sua jornada político partidária à luta pelo reestabelecimento do estado de direito. Baiano de Correntina, Edmundo Rocha chegou a Goiás nos idos de 1950, após completar 19 anos. Viúvo em 60, com duas filhas, dois anos mais tarde, porém, se casaria com uma de suas conterrâneas, a atual conselheira aposentada do TCM, Ivanisa Coimbra Rocha, com a qual tornou-se pai de três outras crianças.
Em 63, assumiu seu primeiro mandato de vereador, pelo PTN. Faltando 15 meses para terminar seu mandato, Edmundo Rocha, juntamente com a maioria da população, civil e política, brasileira pôde sentir a mão pesada da Ditadura. Castelo Branco, através do Ato Institucional nº. 2 (AI-2) dissolveu todos os partidos, para, no mês seguinte, mediante a assinatura do AI-4, instituir o bipartidarismo. Surgia a ARENA e o MDB. Optou pelo último e em março de 77, consegue retornar à Câmara de Vereadores. Catorze dias após ter completado 51 anos morria, vítima de um acidente aéreo, causado por uma forte tempestade.
Carlos Eurico
Embalado pela doce brisa da Anistia, assinada em outubro de 79 pelo último presidente militar, general João Batista Figueiredo, Carlos Eurico, no auge de seus 13 anos, fizera-se Vicentino, um ofício católico, no qual pôde dar forma e direção aos seus interesses pelos carentes. Em agosto de 1980, ele se transferiu para Brasília, retornando à Goiânia em 83, na qual lançara, um ano antes, as fundações do Partido Social Cristão (PSC).
Como primeiro presidente da legenda na Capital, seu nome foi lançado na campanha de deputado federal constituinte, em 86. Porém , não conseguiu ser eleito. Após um jejum de 28 anos impostos por militares e civis golpistas, Carlos Eurico assumiu uma cadeira no plenário do Legislativo goianiense em 1998, eleito um dos 33 representantes da 11ª Legislatura. Morreu em 13 de fevereiro de 1993, vítima de choque anafilático, provavelmente provocado por picada de inseto.
Darcizo de Souza
O escritor espanhol José Ingenieros já sentenciava: "Não se espere nada dos homens que entram na vida sem a febre de um ideal". Analisada por este ângulo, da história de Darcizo de Souza pode-se esperar tudo. Nascido em Catalão em 10 de novembro de 1943, veio ainda menino para Goiânia. Aluno do tradicional Colégio Pedro Gomes, em Campinas, e da Escola Técnica Federal, aos 17 anos ele entrava pela porta de serviço da Rádio Difusora: foi ser faxineiro. Aos 19, já tinha seu próprio programa, Ave Maria.
Pessoa vibrante e simples, Darcizo de Souza transformou-se em pouco tempo no locutor mais querido da rádio Goiana. Conhecido como Barba, O Rei da Alegria, em A Sorte é Sua e Correio Musical, ele mobilizava a população dos bairros em torno de qualquer pessoa que precisasse de ajuda. Por uma dessas ironias do destino, o rompimento traiçoeiro de um aneurisma calou sua voz. Tinha então 33 anos, e vivia um dos momentos mais intensos de toda sua trajetória. Além de manter a todo vapor sua atuação no rádio, Darcizo de Souza cursava a Faculdade de Direito e tinha acabado de ser eleito vereador, um dos mais votados pela ARENA. Com o cérebro lesado em duas partes ele passou a viver vegetativamente em uma cadeira de rodas. O sorriso tímido e as palavras soltas tomaram o lugar de suas sonoras gargalhadas e seus discursos inflamados.
Nos arquivos da Câmara Municipal de Goiânia não há muita coisa dita ou feita por Darcizo de Souza. Quando solicitada qualquer informação a esse respeito, os funcionários mais antigos se lembram de imediato do seu discurso, em 31 de março de 1977, exatamente dois meses antes de ser atingido pela doença, onde fazia apologia ao movimento de 64. Curto, mas direto, o discurso surpreendeu sobretudo os companheiros da bancada do MDB. Num tom bem radiofônico, lembrando as emissões religiosas das quartas-feiras na Rádio Difusora, ele inicia sua fala com uma reflexão profunda sobre "o futuro do homem", para logo tecer duras críticas ao radicalismo político e ideológico. Em seguida, Darcizo insiste no ambiente "de união, paz e prosperidade desta terra amada e abençoada por Deus". Quase no final, faz sua profissão de fé. "Quero deixar bem claro: somos a favor da Revolução". E lamentando a ausência de alguns vereadores do MDB, concluiu: "Não tenho a intenção de humilhar ou combater este ou aquele partido. Eu quero é ver a minha pátria feliz... o pão de cada dia em todas as mesas. Eu quero ver minha pátria realmente contente, contendo o que há na sua bandeira: ordem e progresso".
Um radialista transformado em político pela força de sua popularidade, Darcizo de Souza não precisou fazer campanha para ser o vereador mais votado no pleito de 76. Era um homem que falava à alma do povo. "É certo que ninguém jamais o esquecerá", garante sua esposa, Leila Gontijo de Souza, com quem Darcizo teve dois filhos, Fernanda e Júlio, e criou dois sobrinhos, Kátia e Henrique. Ela conta que quando o marido foi mandado para casa, os médicos deram-lhe um prognóstico de 12 a 14 anos de vida. "Em junho, faz 21 anos que ele vem resistindo", lembra, emocionada. A receita: "Muito carinho e cuidados da família. Ele quase não toma remédios", afirma. O ambiente à sua volta é de alegria; não há sinal de dor ou frustração. "Quando Darcizo adoeceu, meus filhos eram crianças. Tive que prepará-los para aprender a conviver e cuidar bem do pai". Assim, todos se revezam nesses cuidados e, dentro de duas limitações, Darcizo de Souza presenciou o casamento da filha Fernanda, em 93, sendo conduzido numa cadeira de rodas especial até ao altar.
Ponto de partida
Quando nascem os líderes
Vereadores que se tornaram prefeito, deputado, secretário, ministro ou assumiram outros cargos de destaque:
Adão Silva - deputado estadual
Aldo Arantes - deputado federal
Ana Pereira Braga - deputada estadual
Anselmo Pereira - deputado estadual
Antônio Barreto - juiz de Direito
Barbosa Neto - deputado estadual e federal
Benvindo Lôpo - deputado estadual
Bianor Ferreira de Lima - deputado estadual
Clarismar Fernandes - deputado estadual
Cláudio das Neves - deputado estadual
Cristóvam do Espírito Santo - deputado estadual
Daniel Antônio de Oliveira -deputado estadual e prefeito
Darci Accorsi - deputado estadual e prefeito de Goiânia
Denise Carvalho - deputada estadual
Felisberto Pereira Braga - deputado estadual
Geraldo de Souza - deputado estadual
Heli Mesquita - deputado estadual
Idelfonso Avelar de Carvalho - deputado estadual
Iram Saraiva - deputado federal, senador, ministro do TCU
Iris Rezende Machado - prefeito, governador por duas vezes, senador, ministro da Agricultura e ministro da Justiça
João de Paula Teixeira Filho - prefeito de Goiânia (1954)
João Natal - deputado federal
José Barbosa Reis - deputado estadual
José Elias Fernandes - deputado estadual
José Luciano da Fonseca - deputado estadual
José Luiz Bittencourt - vice-governador
José Nelto - deputado estadual
Jovair Arantes - deputado estadual, vice-prefeito e deputado federal
Línio Ribeiro de Paiva - deputado estadual
Messias de Souza Costa - desembargador, presidente do TJ
Nion Albernaz - prefeito por três vezes e deputado federal Constituinte
Olegário Moreira Borges - vice-prefeito
Olímpio Jaime - deputado estadual
Paulo Silva Gomes - deputado estadual
Paulo Souza Neto - presidente do Iplan e secretário Municipal de Meio Ambiente
Pedro Wilson - deputado federal
Sandes Júnior - deputado estadual
Tobias Rodrigues Alves - deputado estadual e federal
Valdi Camárcio - deputado estadual
Vicente Miguel da Silva Souza - deputado estadual
Mulher e o poder
Desde a primeira legislatura, as mulheres participam de forma significativa nas decisões da Casa, deixando claro que romperam a última barreira ainda existente no caminho da emancipação feminina - o poder político. Ana Braga, por exemplo, a primeira a ser eleita em 1947, era odiada, amada e admirada por seus pares. Ela se destacava, principalmente, pelo empenho e dedicação na lide de legislar por toda a comunidade goianiense - e não só em causa própria.
Hoje os tempos são outros, mas as mulheres continuam mostrando trabalho. O tom rosa-choque de seus discursos significa, sim, um toque feminino, mas tem a força de quem sabe de sua importância no processo de consolidação política da Capital.
Mulheres no poder
Ana Pereira Braga
Empossada em 1947, foi a primeira a proferir discurso sobre a importância da mulher na política. Eleita deputada, recebeu votos em todos os municípios goianos. Era da UDN.
Goianita Segurado Bessa
Natural da antiga Vila Boa, primeira Capital do Estado, foi eleita em 1972, pela ARENA, participando da 8ª Legislatura. Exerceu um mandato participativo e atuante.
Rose Cruvinel
Eleita em 1987, pelo PMDB, para a 11ª Legislatura, foi reeleita em 92 e 96. A ocupação desordenada da Capital caracterizou sua maior preocupação, com vários projetos neste sentido.
Maria José C. de Oliveira
Natural de Catalão, participou das duas primeiras Legislaturas pelo PSD. Apesar de fazer oposição à Ana Braga, que era udenista, não se furtava em defender as causas femininas.
Denise Carvalho
Primeira comunista eleita, em 1987 (PC do B) participou da 11ª Legislatura. Em 1990, disputou uma vaga na Assembléia Legislativa, sendo a mais votada na Capital. Foi reeleita em 1994.
Olivia Vieira
Suplente na 11ª Legislatura, pelo PC do B, assumiu a vaga deixada por Denise Carvalho. Foi reeleita em 92 e 96. Enfermeira formada, é conhecida por sua aguerrida atuação na área da Saúde.
Maria Dagmar B. Miranda
Natural de Coutinho, no Espírito Santo, foi eleita em 1982, pelo PMDB, para a 10ª Legislatura. Primeira secretária, fazia dobradinha com Conceição Gayer, sua colega de partido.
Maria Conceição Gayer Lima
Goiana de Caiapônia, foi eleita em 1982, pelo PMDB, para a 10ª Legislatura. Assumiu a presidência da Casa de 1º a 9/02/83. Depois assumiu como Delegada do Consumidor.
Marina Sant´Anna
Participou de duas Legislaturas, a 11ª e a 12ª, pelo PT. Ocupou cargos de relevância dentro do diretório municipal de seu partido. A Cultura, em toda a sua abrangência, foi seu espaço de luta.
Vânia Martins
Delegada de polícia (de carreira), sua determinada atuação a levou ao Legislativo, onde também se destacou. Eleita em 1992, pelo PMDB, participou da 12ª Legislatura.
Julieta Fleury da Silva e Souza
Vereadora na 1ª Legislatura pelo PSD, foi, junto com Ana Braga e Maria José Oliveira, uma das primeiras mulheres a ocupar uma vaga na Câmara Municipal de Goiânia.
Neusa Luis Pereira
Paulista de Presidente Prudente, foi eleita em 1976, pelo MDB, participando da 9ª Legislatura. Mais tarde, aderiu à Arena, mas não perdeu sua forma aguerrida de legislar.
Silene de Andrade
Eleita em 1962, pelo PSP, participou da 5ª Legislatura. Pernambucana de Jaboatão, se destacou pela competência e seriedade com que sempre conduziu o trabalho parlamentar.