Audiência pública debate criação de curso de Terapia Ocupacional na UFG
A criação do curso de Terapia Ocupacional na Universidade Federal de Goiás (UFG) foi tema de audiência pública realizada, na tarde desta terça-feira (18), no Auditório Carlos Eurico da Câmara Municipal de Goiânia. O evento foi presidido por Willian Veloso (PL).
O vereador afirmou que a realização da audiência é um dos requisitos do processo de abertura do curso na instituição e que a criação dele é necessária porque há poucos profissionais em atuação no mercado. “Em todo o estado, faltam profissionais tanto na rede pública como na privada. Há demanda considerável que não consegue atendimento em razão do baixo número de terapeutas ocupacionais e nem mesmo planos de saúde conseguem oferecer seus serviços. Isso tem gerado longas filas de espera para atendimento e, quando ele é feito, não é realizada a quantidade de sessões necessárias e prescritas pelos médicos. Uma das justificativas para esse desequilíbrio é a existência de apenas um curso em todo o estado de Goiás”, explicou.
O pró-reitor de Graduação da UFG, Israel Elias Trindade, disse estar honrado por várias entidades ligadas à terapia ocupacional terem escolhido a universidade para abrir o novo curso. “Vocês fizeram uma escolha assertiva, pois a UFG está entre as 30 ou 20 melhores universidades brasileiras, dependendo do ranking, e é uma das mil melhores instituições do mundo, segundo o Ranking de Xangai. Podem ter certeza de que formaremos os profissionais mais qualificados e mais responsáveis para lidar com a demanda.”
Mesmo tendo sido criado três cursos novos no ano passado, Israel relatou que a universidade não vive um bom momento, devido aos sucessivos cortes de verbas que vem sofrendo nos últimos anos. A estimativa dele é de que sejam necessários R$ 130 milhões anuais para pleno funcionamento da instituição, com base no orçamento de 2015. Mas, em 2022, a UFG recebeu apenas metade desse valor e ainda vem sofrendo com bloqueios feitos pelo Governo Federal. “O último bloqueio, anunciado no início deste mês, não foi efetivado, mas, se ele tivesse ocorrido, a universidade fecharia as portas em novembro porque não teríamos dinheiro para pagar água, energia, limpeza, manutenção e segurança”, disse ele.
“Toda a estrutura, que nos coloca onde estamos nos rankings, tem custo. Gastar em educação não é gasto, é investimento, pois o que é investido a universidade devolve para a sociedade por meio da geração de patentes, de novas tecnologias e de prestação de serviços. Mas, mesmo diante de toda essa situação financeira, a UFG não está insensível às demandas da sociedade”, completou Israel.
O secretário estadual de Saúde, Sandro Rogério Rodrigues Batista, afirmou que há necessidade de formação de mais profissionais em terapia ocupacional, devido à ampliação de leitos de saúde em todo o estado, por causa da pandemia de Covid-19. “Passamos de três para 23 cidades com leitos de UTI e foram abertos mais sete hospitais. Contudo, temos grande dificuldade de formar equipes completas de UTI, seguindo recomendações do Ministério da Saúde, por causa da falta de terapeutas ocupacionais.”
A vice-presidente do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO), Ana Carla de Souza Nogueira, também comentou sobre equipes de profissionais incompletas nas unidades de saúde. Ela alertou que a falta do terapeuta ocupacional gera envio de menos dinheiro por parte do Governo Federal para custeio de leitos de saúde.
Já o presidente da Associação Brasileira de Terapeutas Ocupacionais (Abrato), Derivan Brito da Silva, falou que a profissão existe há 80 anos no Brasil e foi regulamentada em 1969. “Os terapeutas ocupacionais são recrutados para atender demandas no campo da saúde, da educação, da assistência social, do trabalho, da justiça, da cultura e do esporte e lazer. A formação desses profissionais ainda é um desafio no Brasil, diante do baixo número de instituições de ensino superior, em especial públicas, que ofertam curso de graduação. Em 2020, havia 34 cursos de Terapia Ocupacional no país, contra mais de 400 de Fisioterapia, o que representa uma discrepância significativa”, explicou.
A diretora da Associação das Mães em Movimento pelo Autismo de Goiás, Letícia Amaral, e a presidente da Associação de Paralisia Cerebral de Goiás, Luciana Prudente, fizeram relatos semelhantes em que descreveram a importância do terapeuta ocupacional no desenvolvimento de atividades motoras de suas filhas. Elas também falaram sobre dificuldade de encontrar esse profissional para atender necessidades das famílias. Com ajuda de terapeuta, a filha de Letícia, que tem autismo severo, aprendeu a sentir o toque das mãos e dos pés, o que possibilitou realização de tarefas manuais básicas. Já a filha de Luciana, que tem paralisia cerebral nível três, aprendeu a fazer atividades básicas do dia a dia, como trocar de roupa, escovar dentes, ir ao banheiro e entrar e sair do carro.