Câmara promove mais um Encontro em Defesa e Valorização da Mulher
O segundo Encontro em Defesa e Valorização da Mulher, evento promovido pela Presidência da Câmara Municipal de Goiânia como parte da campanha “Não vai ter Psiu!”, reuniu no Auditório Carlos Eurico várias mulheres para discutir a importância da mulher na vida pública e privada, além de debater meios para combater ao machismo, à violência contra as mulheres e as discriminações diversas sofridas por elas no dia-a-dia.
O evento foi mediado pelo presidente da Casa, Andrey Azeredo (PMDB) e recebeu as seguintes autoridades: Onaide Santillo, superintendente executiva dos direitos humanos da Secretaria Estadual da Mulher, do Desenvolvimento Social, da Igualdade Racial, dos Direitos Humanos e do Trabalho (Secretaria Cidadã); Célia Valadão, secretária municipal de políticas para as mulheres; Márcia Carvalho, secretária municipal de assistência social; Filemon Pereira Miguel, secretário municipal de direitos humanos; e a vereadora Priscilla Tejota (PSD). Também participaram a presidente do Conselho Nacional da Juventude, Aava Santiago; a doutoranda em sociologia Uianã Cordeiro Cruvinel Borges e a delegada da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher, Ana Elisa Gomes Martins.
Onaide Santillo disse que a Secretaria Cidadã lançará em agosto o projeto “Gênero e Direitos Humanos vão à Escola”, numa parceria com a OAB, o Tribunal de Justiça e Secretaria Estadual de Educação. Para ela, é importante que a mudança de cultura comece já na escola, onde geralmente começa a separação entre as atividades julgadas adequadas para meninos e meninas. “O comportamento social entre as crianças têm que ser tratado de forma igualitária desde cedo”, disse ela.
A ex-vereadora Célia Valadão contou que sua secretaria é “jovem” e foi criada em 2011 “graças a luta de muitas mulheres”. Explicou que fazem parte das responsabilidades da pasta propor e coordenar as políticas públicas municipais, tais como prevenção e combate às discriminações e à violação dos direitos das mulheres; reduzir a desigualdade de gênero; atender as vítimas de violência doméstica e sexual; e garantir os direitos de participação na política e de terem educação, trabalho, cultura e lazer.
Já a secretária Marcia Carvalho defendeu o empoderamento feminino. “As mulheres têm todo o poder nas mãos. Onde nós podemos entrar, nem sempre o homem não pode entrar. Onde nós podemos percorrer, nem sempre todos os homens podem percorrer.” Com isso, as mulheres precisam, segundo ela, ocupar os espaços na política, que é desigual. Ela deu o exemplo de Goiânia, que tem o eleitorado feminino representando 51% do total, mas só cinco mulheres – de um total de 35 cadeiras – ocuparem vagas de vereadores na Câmara Municipal.
A vereadora Priscilla Tejota criticou o machismo vindo das próprias mulheres, que surgem em falas e atitudes do dia-a-dia. “Certos comentários atribuem culpa às vítimas de violência. Isso mina a solidariedade feminina, perde-se a capacidade de solidarizar com a dor da outra, como dar atenção e oferecer ajuda. Nós apoiarmos umas às outras é fundamental”, disse ela. Priscilla propôs que a Câmara leve o debate proposto pela campanha às universidades. A sugestão foi acatada pelo presidente Andrey, que anunciou a realização de um evento na Unifan, junto com uma campanha da universidade.
A presidente do Conselho Nacional da Juventude destacou a importância da campanha “Não vai ter Psiu!” no combate às desigualdades. “É o indicativo de que esta Casa irá fazer leis sempre com a premissa de que não é possível firmar políticas públicas firmadas na desigualdade e exploração de gênero”, disse Aava Santiago.
A socióloga Uianã Cordeiro Cruvinel Borges explicou que o termo feminismo tem sido erroneamente considerado como “o contrário de machismo”, ou seja, as mulheres tomando o poder dos homens. “Não há contrário para machismo dado em conta que não há pauta para a dominação do feminismo”. No machismo, o gênero masculino busca produzir e reproduzir a dominação, e no feminismo, busca-se a autonomia do gênero feminino. Para ela, o termo é empregado errado pela grande mídia – controlada majoritariamente por homens – como forma de desqualificar as pautas do feminismo.
Ela também falou que, apesar dos vários avanços sociais de liberdade e proteção de direitos para as mulheres, como trabalhar fora, controlar a gravidez e até a conquista mais recente, a Lei Maria da Penha, as mulheres ainda enfrentam um problema silencioso chamado “violência simbólica”. “Uma cantata, um ‘psiu’, que são considerados como humilhação, deixam marcas psicológicas que são difíceis de provar ao outro porque faltam materialidade. O simbólico é invisível e é uma das coisas mais poderosas criadas pelo ser humano”, explicou.
Por último, a delegada Ana Elisa, frisou a importância das mulheres de não deixarem de registrar numa delegacia delitos menores, como cantadas e atos de obscenidade, com o argumento de que não vai adiantar denunciar, pois o agressor não será punido. “Talvez um registro não caminhe para a condenação ou gere um antecedente criminal, mas ele nunca é suprimido do nosso sistema. Ele gera um conhecimento sobre a conduta do indivíduo, que pode ser útil no futuro, já que muitos acabam incorrendo no mesmo crime, e isso pode ajudar a indiciar o agressor lá na frente.”