Campanha do Laço Branco, de combate à violência contra a mulher, é tema de audiência pública na Câmara
Mauro Rubem (PT) promoveu uma audiência pública na tarde desta segunda-feira (6) para discutir a violência contra as mulheres, em lembrança à data de hoje, que marca a Campanha do Laço Branco.
A campanha tem como objetivo sensibilizar, envolver e mobilizar os homens no engajamento pelo fim da violência contra a mulher. As atividades são feitas em parceria de movimentos organizados de mulheres e outras representações sociais, buscando a equidade de gênero por meio de ações em saúde, educação, trabalho, justiça e ação social, segurança pública e direitos humanos.
Ela surgiu após um rapaz de 25 anos, em 6 de dezembro de 1989, invadir uma sala de aula da escola politécnica da cidade de Montreal, no Canadá, e ordenar que os 48 homens presentes se retirassem, permanecendo somente as mulheres. Gritando “vocês são todas feministas”, ele atirou, matando 14 delas à queima-roupa; em seguida se matou. O assassino deixou uma carta em que afirmava que fez aquilo porque não suportava ver mulheres estudando engenharia, curso tradicionalmente dirigido ao público masculino.
“O crime mobilizou a opinião pública de todo o país, gerando um amplo debate sobre as desigualdades entre homens e mulheres e a violência. Surgia, assim, a primeira Campanha do Laço Branco, criada por homens que adotaram como lema jamais cometer um ato violento contra mulheres e não fechar os olhos frente essa violência”, explicou Mauro Rubem.
A partir desse ocorrido, o dia 25 de novembro foi proclamado pelo Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher como Dia Internacional da Erradicação da Violência contra a Mulher. “O dia 6 de dezembro foi escolhido para que a violência cometida com aquelas estudantes canadenses não fosse esquecida e a Campanha do Lanço Branco é uma maneira de homenagear aquelas pessoas brutalmente assassinadas apenas por serem mulheres”, completou.
A presidente do Conselho Estadual da Mulher, Ana Rita Marcelo de Castro, abriu os debates da audiência anunciando o lançamento do Movimento Homens pelo Fim da Violência contra a Mulher em parceria com o mandato do vereador Mauro Rubem. O coletivo recebeu, já durante o evento, a adesão de 22 homens que participavam da audiência.
Ana Rita também destacou os diversos tipos de violência sofridas pelas mulheres. “A violência não é só a doméstica e familiar. Existe a violência da política de gênero, que nos exclui dos espaços de poder e decisão, nos deixa em apenas 16% de representação no parlamento federal e nos coloca em apenas 35% dos postos de chefia nas empresas, quando, em média, as mulheres têm três anos a mais de escolaridade que os homens. Violência contra a mulher é também toda aquela que não permite que nós tenhamos acesso às políticas públicas e condição igual de participar da vida social.”
A psicóloga Beth Fernandes preside o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher e da Associação de Travestis e Transexuais (Astral). Ela falou sobre a origem da masculinidade tóxica e defendeu a educação para diminuir os efeitos dela. “O Homo sapiens teve que ser violento para tomar posse das terras desde os primórdios da humanidade e isto ficou embrenhado no consciente coletivo, formando a masculinidade tóxica. Uma das condições dessa masculinidade é a dominação. Quando o homem perde essa dominação, ele precisa violentar ou matar. A violência doméstica demonstra bem esse poder sobre o outro. Temos que construir juntos com nossos meninos e meninas, por meio da educação, a mudança desses valores culturais e comportamentos de domínio.”
Lucia Rincon, fundadora do Centro Popular da Mulher, ex-conselheira do Conselho Nacional de Políticas sobre Mulheres e ex-presidente da União Brasileira de Mulheres (UBM), complementou a fala de Beth dizendo que a carga de poder e dominação dada culturalmente aos homens é prejudicial a eles próprios. “Essa carga para eles é muito pesada porque tira deles a possibilidade de viver e manifestar as suas emoções, de chorar, acariciar e acolher em público. O viver o sentimento, a sensibilidade e o compartilhamento são negados culturalmente aos homens.”
O secretário municipal de Saúde, Durval Pedroso, enviou a gerente de doenças crônicas não-transmissíveis da secretaria, Daniela Teixeira Siqueira, para representá-lo na audiência. Ela disse que a pasta trabalha em várias frentes no combate a violência contra a mulher. “A secretaria está sempre trabalhando na formação dos profissionais, sensibilizando da importância da notificação dos casos de violência nas unidades de saúde de urgência e de atenção primária e que ela seja feita de forma humanizada. A secretaria trabalha tanto na atenção à saúde da mulher que passou pela violência quanto na prevenção, abordando o tema dentro dos programas.”
Representando o Poder Judiciário, o juiz de direito Vitor Umbelino Soares Júnior, vice-coordenador da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Tribunal de Justiça de Goiás, destacou que a Justiça goiana tem agilizado o julgamento dos processos de violência contra a mulher. “Aqui na capital criamos quatro juizados destinados exclusivamente aos processos relacionados à Lei Maria da Penha. No interior, também já avançamos e temos, hoje, os Juizados de Violência contra a Mulher nas comarcas de Rio Verde, Jataí, Aparecida de Goiânia, Anápolis e Luziânia, uma das campeãs em termos de feminicídio.”
O entorno de Brasília, onde está Luziânia, foi a região mais violenta contra mulheres no ano passado. Lá estão duas das quatro cidades onde mais morreram mulheres. Luziânia ocupou o primeiro lugar com seis assassinatos e Águas Lindas de Goiás dividiu o terceiro lugar com Trindade, com três mortes cada uma. Goiânia ficou no segundo lugar, com quatro mortes em 2020.
O juiz Vitor Umbelino convidou a todos para a próxima audiência que dará sequência às discussões em torno da Campanha do Laço Branco, a ser realizada no Tribunal de Justiça, mas ainda sem data definida. Mauro Rubem sugeriu que os encontros sejam feitos rotativamente nas dependências dos órgãos e entidades que participam da campanha, como Ministério Público, Defensoria Pública, entre outros.