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Ex-diretor financeiro da Comurg afirma que recursos de obras pagaram outras despesas

por Patrícia Drummond publicado 13/04/2023 00h10, última modificação 13/04/2023 16h28
Segundo Ricardo Itacarambi, companhia também acumula dívidas de R$ 1,2 bilhão em tributos federais

Ex-diretor administrativo-financeiro da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), entre abril de 2021 e outubro de 2022, o analista de sistemas e especialista em Controladoria e Finanças Ricardo Itacarambi foi ouvido, na tarde desta quarta-feira (12), pela Comissão Especial de Inquérito (CEI) que investiga supostas irregularidades na gestão do órgão. Ele compareceu à reunião – na condição de testemunha – acompanhado do advogado Arthur Bernardes, que foi secretário de Governo e, depois, ocupou o Escritório de Prioridades Estratégicas na atual administração municipal.

Itacarambi foi questionado pelos membros da CEI sobre antecipação de pagamentos à Comurg por parte da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), em especial pelo contrato 12/22, de cerca de R$ 12 milhões, cujo montante deveria ser investido na construção de 50 praças públicas – recursos e obras definidos por meio de emendas impositivas apresentadas pelos vereadores. O ex-diretor da companhia afirmou que o dinheiro recebido, de forma antecipada e sem conclusão dos serviços, financiou outras despesas. Ele apresentou documentos comprobatórios à comissão.

“Do total, 74% foi direcionado ao pagamento de fornecedores, 15% para pagamento de pessoal e 10% para pagamento de débitos com a Justiça”, declarou Ricardo Itacarambi. De acordo com ele, além da folha de pagamento e de bloqueios judiciais trabalhistas, o montante antecipado pela SRI à Comurg custeou pagamento de tarifas bancárias, consultorias, manutenção de caminhões, combustível, uniformes, softwares e banheiros químicos, entre outros. O ex-diretor frisou que tratativas, critérios e validações de acordos, contratos e pagamentos sempre estiveram, durante o período em que esteve na Comurg, a cargo do presidente, Alisson Borges. “Há uma hierarquia dentro da empresa”, argumentou.

Áudio

Aos membros da CEI, Ricardo Itacarambi informou que, quando deixou a Comurg, em outubro do ano passado, a dívida do órgão era de R$ 70 milhões, mas já havia chegado, em maio passado, a R$ 112 milhões. Isso, segundo ele, sem levar em consideração dívidas fiscais – cerca de R$ 1,2 bilhão em tributos federais. “É complexo calcular o déficit, a dívida exata da Comurg”, avaliou, lembrando, ainda, que a empresa acumula três mil ações trabalhistas. O ex-diretor também respondeu a questionamentos sobre altos salários, servidores aposentados ainda na ativa e repasses feitos ao Instituto Municipal de Assistência à Saúde dos Servidores de Goiânia (Imas).

Ponto polêmico na reunião desta quarta-feira foi a divulgação de um áudio. Ao responder sobre possíveis interferências políticas na liberação de obras, Ricardo Itacarambi reproduziu áudio em que a então secretária de Relações Institucionais, Valéria Pettersen, orienta atendimento prioritário a vereadores que seriam candidatos nas eleições. O ex-diretor afirmou ter recebido a mensagem em 14 de junho de 2022 – quatro dias após aditamento do contrato de R$ 12 milhões para construção de praças. Em depoimento à Comissão Especial de Inquérito, na terça-feira, Valéria assegurou que não havia interferência política.