Em Audiência Pública, educadores propõem elaborar plano de ação para evitar reestruturação da EJA, anunciada pela Prefeitura
A elaboração de um plano de ação, com objetivo de impedir a reestruturação da Educação de Jovens e Adultos (EJA) na rede pública municipal, proposta pela Prefeitura de Goiânia, foi um dos principais encaminhamentos de Audiência Pública realizada na tarde de sexta-feira (16), na Câmara, para discutir o tema. A iniciativa do debate foi do vereador Mauro Rubem (PT), vice-presidente da Comissão de Educação da Casa, e contou com presença de representantes do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Goiás (Sintego); Sindicato Municipal dos Servidores da Educação de Goiânia (Simsed); Fórum Municipal de Educação; Fórum Goiano de Educação de Jovens e Adultos; Conselho Estadual de Educação; e Conselho de Acompanhamento e Controle Social do Fundeb.
Tão logo a Secretaria Municipal de Educação (SME) divulgou mudanças com relação à EJA, em Goiânia, professores e lideranças da categoria já se manifestaram contra a medida. A SME publicou cartilha, informando que o programa, a partir de 2023, terá junção dos Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento da 1ª e da 2ª séries em um só período. Educadores alegam que isso deverá gerar impacto negativo para estudantes e trabalhadores, porque turmas em níveis diferentes de aprendizagem serão unidas. Outro ponto de reclamação é a reformulação das aulas. A SME quer ampliar conteúdos de Língua Portuguesa e Matemática e reduzir os das demais disciplinas. Segundo o Anuário Brasileiro da Educação Básica, de 2020, de cada cem estudantes que ingressam na escola, na capital, 15 não concluem o Ensino Fundamental II até completar 16 anos.
Nesse sentido, ações encaminhadas durante a Audiência Pública preveem encontros de profissionais e alunos; formação de grupo de trabalho para elaborar proposta alternativa e enviar à SME; combater o desmonte, união de séries diferentes e garantir isonomia na oferta das disciplinas. Além disso, o grupo quer realização de censo, com atualização do número de pessoas não alfabetizadas em Goiânia, e propagandas da Prefeitura, com divulgação das aulas e conscientização de sua importância. Educadores defendem, ainda, contratação imediata dos aprovados em concurso municipal.
Críticas
De acordo com o coordenador do Fórum Goiano de EJA, Lucas Martim Avelar, unir turmas de séries diferentes, como quer a SME, é prejudicial tanto ao aluno como ao professor, já que dificulta aprendizado. A justificativa do secretário Wellington Bessa é de que salas de aula da EJA estão vazias e gerando prejuízo ao município. Professores, no entanto, afirmam que houve redução no número de alunos na época da pandemia e que, depois disso, a Prefeitura de Goiânia não fez publicidade da EJA, nem divulgou abertura de matrículas. “O poder público não está preocupado com bases pedagógicas da EJA. Por isso, a precarização da oferta de vagas e do ensino. O que precisamos é de mais recursos e capacitação profissional, lembrando que Goiânia não atingiu sua meta de alfabetização”, destacou Lucas.
Na avaliação do presidente do Simsed, Antônio Gonçalves Rocha Júnior, a reestruturação proposta pela SME está ocorrendo apenas por interesses econômicos. O ideal, segundo ele, é que se discutisse ampliação da EJA em associações e com turmas no período vespertino, e não união de turmas e fechamento de salas. A professora Angélica Alarcão, também do Simsed, concordou com Antônio e ressaltou que Educação é bem público, que deve ser protegido. Ela defendeu capacitação especializada para educador da EJA.
Sandra Camargo, professora, relembrou, em sua fala, a trajetória como ex-aluna da EJA. “Dizer que o número reduzido de alunos causa prejuízo é absurdo”, argumentou. “Estudei pela EJA e hoje sou professora, com doutorado em Educação pela Universidade Federal de Goiás (UFG). A EJA é fundamental para o desenvolvimento do país”, acrescentou.
Vice-presidente da Comissão de Educação da Câmara e proponente da Audiência Pública realizada na sexta-feira, o vereador Mauro Rubem lamentou falta de diálogo com o prefeito Rogério Cruz (Republicanos) e com o secretário Wellington Bessa. Ambos foram convidados para o debate, mas não compareceram, nem mandaram representantes. Mauro lembrou que, há alguns dias, ele e um grupo de educadores estiveram no Paço para tratar de diversos assuntos – incluindo EJA e fechamento de bibliotecas nas escolas municipais –, porém não foram recebidos.