Em depoimento à CEI, presidente da Comurg é questionado sobre altos salários e nomeação de parentes
A Comissão Especial de Inquérito (CEI) que investiga supostas irregularidades na gestão da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) ouviu, nesta quarta-feira (22), o presidente da empresa, Alisson Silva Borges. Acompanhado do assessor jurídico da companhia, ele respondeu a questionamentos dos membros titulares da CEI durante cerca de três horas. Os vereadores pediram explicações a Alisson sobre possíveis casos de nepotismo; pagamentos antecipados pelo Executivo por obras não concluídas; dívidas; cargos comissionados e folha de pagamento; jetons; gastos com combustível e manutenção de veículos; e contratos com fornecedores.
Logo no início da reunião, em sua primeira pergunta, o presidente da CEI, Ronilson Reis (PMB), quis saber do presidente da Comurg se ele tinha parentes na empresa. Ao responder que sim, e nomear o pai (Albertino Simão Borges) e o sogro (Edimar Ferreira da Silva), Alisson Borges foi questionado sobre as indicações, gratificações e cargos que ambos ocupam dentro da companhia. Conforme apontou Ronilson, o pai do presidente da Comurg recebe gratificação de R$ 6,5 mil pela função de assistente administrativo. Com outra gratificação de R$ 12 mil incorporada a vencimento de R$ 4,1 mil, o salário bruto passa dos R$ 25 mil, segundo informações disponibilizadas pelo Portal da Transparência. Albertino já é servidor efetivo aposentado, como declarou o próprio Alisson.
Já o sogro do presidente da Comurg, Edimar Ferreira da Silva – atual diretor de Urbanismo da empresa – recebe gratificação, pela função de confiança, de R$ 12 mil. Segundo dados do Portal da Transparência, o servidor tem outra gratificação de R$ 12 mil, incorporada ao salário-base de R$ 1,4 mil. Ao vencimento mensal, somam-se “outros proventos”, no valor de R$ 3,1 mil. Ao todo, Edimar recebeu, no último mês de fevereiro, R$ 28,6 mil. O cargo de origem é trabalhador de Limpeza Urbana; a admissão ocorreu em 1º de setembro de 2006.
“Meu sogro já ocupava essa função de diretor de Urbanismo quando assumi a gestão da empresa; não foi indicação minha. Ele já era diretor, inclusive, quando o prefeito Rogério Cruz assumiu”, justificou o presidente da Comurg. Sobre o pai, Alisson Borges destacou que ele é servidor de carreira desde 1983, e, como tal, em 40 anos de serviços prestados, conquistou benefícios. Frisou ainda que todas as indicações são feitas pelo chefe do Executivo e apreciadas e votadas pelo Conselho de Administração da Comurg. De acordo com Alisson, a avaliação interna do órgão é de que os casos não caracterizam nepotismo.
Antecipação de pagamentos
O depoimento à CEI revelou uma série de problemas na gestão da companhia, que enfrenta déficit superior a R$ 200 milhões. Alisson Borges, contudo, não soube precisar o tamanho do rombo. Ele citou dívidas trabalhistas, tributárias, com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), além de pagamentos em duplicidade.
Os valores de R$ 8 milhões adiantados à Comurg pela Prefeitura, referentes a contratos de emendas impositivas e de obras nos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) e no Cemitério Parque – serviços ainda não concluídos – foram ponto de destaque na reunião da comissão. O presidente da empresa admitiu que recursos foram utilizados para pagar fornecedores e afirmou ter sido a ex-secretária de Relações Institucionais, Valéria Pettersen, quem emitiu nota fiscal para que a companhia recebesse de forma antecipada, mesmo sem executar as obras. Ele não soube dizer se o prefeito Rogério Cruz tinha conhecimento dos pagamentos antecipados.
As declarações de Alisson Borges levaram o vice-presidente da CEI, vereador Welton Lemos (Podemos), a solicitar que Valéria Pettersen também seja convocada para prestar esclarecimentos. Outro que deverá ser ouvido pelos parlamentares é o ex-presidente da Comurg, Alex Gama, antecessor de Alisson. Relator da CEI, o vereador Thialu Guiotti (Avante) pediu urgência na convocação de diretores e gerentes administrativos e financeiros da Secretaria Municipal de Finanças (Sefin), da Controladoria-Geral do Município, da Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social (Sedhs), do Instituto de Assistência à Saúde e Social dos Servidores Municipais (Imas) e também da Comurg.