Audiência pública discute saúde mental de crianças e adolescentes
A vereadora Sabrina Garcez (Republicanos) comandou, nesta sexta-feira (1º), audiência pública, no Plenário da Câmara de Goiânia, para discutir saúde mental de crianças e adolescentes. Segundo a parlamentar, o debate foi motivado por notícias sobre jovens que praticaram automutilação, em São Paulo, e alunos que tiveram crise de ansiedade coletiva, em Recife. Em abril, Sabrina apresentou projeto de lei para instituir a Política Municipal de Prevenção da Automutilação em Jovens de Goiânia e convidou vereadores para criação da Frente Parlamentar em Defesa da Saúde Mental dos Adolescentes.
“Precisamos fazer este debate e buscar ajuda para os jovens que tanto precisam. Temos que unir o Poder Público, especialistas, sistema de saúde, educadores, pais e mães. Não podemos continuar a perder jovens para a depressão, automutilação e até suicídio”, disse ela.
A parlamentar apresentou dados de um estudo realizado em São Paulo, o qual mostrou que 69% dos estudantes avaliados relataram sintomas de depressão e ansiedade. Dentro desse cenário, um em cada três alunos afirmam ter dificuldade de concentração em nível alto ou moderado. Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que as condições de saúde mental são responsáveis por 16% da carga global de doenças e lesões em pessoas com idade entre 10 e 19 anos. O suicídio é a terceira principal causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos, também segundo a OMS.
O secretário municipal de Saúde, Durval Pedroso, foi um dos convidados para a audiência. Ele comentou que o período em que vivemos, com o uso intenso de tecnologia para comunicação e transmissão de informações, tem afetado a estrutura e o desenvolvimento sociofamiliar das crianças e adolescentes, além da forma como elas reagem à realidade. Disse ainda que a secretaria tem programas de notificação compulsória de situações em que pessoas são atendidas com algum sinal de violência autoprovocada ou outro problema mental. “É muito importante que a linha do cuidado em saúde se estenda com foco na atenção à saúde mental. Nós precisamos promovê-la. A OMS coloca que a condição de saúde não é ausência de doença, mas o bem-estar físico, psíquico e emocional”, afirmou.
O secretário executivo Eduardo Oliveira, ao lado da secretária municipal de Direitos Humanos, Cida Garcêz, explicou que os jovens somam uma capacidade produtiva para o futuro que não pode ser perdida devido a não atenção à saúde mental deles. “É preciso que o Poder Público e suas diversas secretarias tenham coordenação nesse assunto. A rede de proteção à criança e ao adolescente precisa sair da teoria. É preciso que os conselhos tutelares, as escolas, as unidades de saúde e o bairro em geral tenham um olhar para identificar quando uma criança tem algum problema e encaminhá-la para ajuda”, disse Eduardo.
Adriano Alves é professor, também psicanalista, e dá aulas de Língua Portuguesa em escolas particulares de Goiânia. Ele observou que, ao longo de 25 anos de experiência trabalhando em escolas, houve aumento de ansiedade nos alunos. “Há 20 anos, se eu perguntasse numa sala com cem alunos quem já passou mal de ansiedade ou estresse, como se dizia na época, um ou outro levantava a mão. Hoje, se eu pergunto isso, 80% dos alunos levantam a mão. Isso significa que a situação atual é muito séria”. Para o professor, o uso das novas tecnologias de informação mudou a forma de representação da linguagem, não apenas escrita, e a percepção do tempo. “Sempre que mudamos a linguagem, o nosso jeito de perceber a realidade muda e, consequentemente, o nosso jeito de sofrer”, afirmou. “Hoje, percebemos o mundo de forma fragmentada passando o dedo na tela do telefone e vendo redes sociais, que representam realidades fragmentadas. Mas, a saúde mental só é possível quando conseguimos perceber a realidade como um todo”, acrescentou Adriano.
Carolina Campos, fundadora e diretora-executiva da consultoria Vozes da Educação, participou virtualmente desde Recife com uma palestra detalhada sobre saúde mental nas escolas. Para ela, “cuidar da saúde mental tem que deixar de ser um luxo para os ricos e virar um serviço básico, aceito pela sociedade como um direito fundamental e, portanto, disponível e acessível para todas as pessoas da comunidade”. Ela lembrou que existe uma lei federal (13.819/2019) que obriga as escolas a ter um “time” responsável pela saúde mental, com a participação de diretores, coordenadores e professores dedicados a observar e orientar os alunos. Outra competência é “mapear” os recursos ao redor da escola, identificando serviços de emergência, saúde mental, polícia, entre outros.
Marislei de Sousa, coordenadora do programa Saúde na Escola na Secretaria Municipal de Educação, explicou que ele é realizado desde 2007 e possui eixos de atuação voltados à saúde mental. Nele, estão inclusos protocolos em casos de emergência e urgência, além de orientações nos casos de “descompensação mental e surtos". Ela disse durante a audiência que, quando a saúde mental de uma criança recebe apoio dos gestores públicos, o grau de aprendizado é três vezes maior, a frequência escolar aumenta 100% e o envolvimento com violência e drogas cai pela metade. “Cada centavo gasto com prevenção reflete em milhões economizados com recuperação. Então, quanto mais trabalhamos a promoção e a proteção, menos gastamos depois”, concluiu.